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BRASIL
Doleiro diz
ter vídeos que provam negociação de propinas para PMDB
Preso, Lúcio Funaro diz que operava um esquema que recolheu 100 milhões
de reais para o partido
Por: Thiago
Bronzatto e Daniel Pereira01/07/2016 às 21:48 - Atualizado
em 02/07/2016 às 15:36
Lúcio
Bolonha Funaro diz que gravou imagens de tudo o que se passou em seu escritório
nos últimos anos. Os vídeos mostrariam visitas de políticos do esquema do PMDB,
cuja cúpula, da qual fazem parte Eduardo Cunha e Renan Calheiros, está na mira
da Lava-Jato(Aloisio
Mauricio/FotoArena/Folhapress)
O doleiro Lúcio Bolonha Funaro sabia que, uma hora qualquer, seria
alcançado pela Lava-Jato. Aconteceu na manhã de sexta-feira passada, quando foi
preso preventivamente. Tanto sabia que, nas últimas semanas, passou a conversar
com advogados sobre a possibilidade de fazer delação premiada. Figurinha fácil
em escândalos, Funaro tem muito a dizer e a mostrar. A pessoas próximas, ele já
afirmou ter recebido 100 milhões de reais de empresas com contratos públicos,
propina desembolsada para remunerar serviços do deputado Eduardo Cunha,
presidente afastado da Câmara, de quem é um antigo parceiro de negócios. Funaro
também contou que boa parte dos 100 milhões foi transferida, a mando de Cunha,
a caciques do PMDB e deputados do chamado "centrão", o que explicaria
a eleição de Cunha para o comando da Casa. Como delator, Funaro terá de provar
o que diz para conseguir a redução de pena. Aos advogados, disse que isso não
será difícil. Ele garante ter gravado empresários e parlamentares que visitaram
seu escritório em São Paulo para discutir os valores dos contratos e das
respectivas propinas. Gravação em vídeo, para não deixar margem a dúvidas.
A prisão de Funaro é um desdobramento da delação de Fábio Cleto, ex-vice-presidente
da Caixa Econômica Federal e, assim como o doleiro, notório operador de Eduardo
Cunha. Cleto declarou à força-tarefa da Lava-Jato que Cunha cobrava propina das
empresas interessadas em obter recursos do FI-FGTS, um fundo de investimentos
em infraestrutura administrado pela Caixa. Em cada contrato, segundo disse
Cleto, Cunha embolsava entre 0,3% e 1% do valor total. Cabia a Funaro
participar da coleta da comissão. O método teria sido aplicado quando o FI-FGTS
aprovou o repasse de 940 milhões de reais à Eldorado Celulose, empresa da
J&F, holding que abriga também a JBS, a maior empresa de carnes processadas
do mundo. Os investigadores descobriram que Funaro, nessa operação, arrecadou
ao menos 9 milhões de reais, o que confere com o 1% de que fala Cleto. A
Polícia Federal fez busca e apreensão na sede da JBS e na casa de seu dono,
Joesley Batista, em São Paulo. Na delação, Cleto disse que Cunha também
embolsou propina em operações do FI-FGTS com a OAS e a Odebrecht.
A corrupção no fundo funcionava no modelo tradicional. Cunha escalava
Cleto, seu preposto na Caixa, para criar dificuldades, e, depois, vendia
facilidades. Se a empresa não pagava a propina, Cleto pedia vista do processo.
Certa vez, Cunha contou com a ajuda de Henrique Eduardo Alves, ex-ministro de
Dilma e Temer, então na presidência da Câmara, para pressionar a cúpula da
Caixa a aprovar a liberação de recursos do FI-FGTS à OAS Óleo e Gás e ao
Estaleiro Atlântico Sul, de propriedade da Camargo
Corrêa e da Queiroz Galvão. No gabinete de Henrique Alves, Cunha
disse a executivos da Caixa que, se o dinheiro não saísse, Cleto impediria o
avanço de qualquer projeto de interesse do governo. Conforme revelado por
VEJA.com, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já denunciou Henrique
Alves, Eduardo Cunha, Fábio Cleto e Lúcio Funaro por participação no esquema de
corrupção da Caixa. O cerco ao PMDB é amplo e irrestrito. Outro delator acusou
o presidente do Senado, Renan Calheiros, e a cúpula do partido de receber
propina de um ex-diretor do grupo Hypermarcas.
Renan é investigado em oito inquéritos da Lava-Jato, mas a situação de
Cunha é bem mais delicada. Com dois de seus tarefeiros capturados, Cunha
recorre à estratégia de sempre: a ameaça. No domingo 26, o deputado visitou o
presidente interino Michel Temer no Palácio do Jaburu. Pediu ajuda para se
salvar da cassação de mandato e, caso renunciasse à presidência da Câmara, para
eleger um aliado para o posto. É notório que Cunha levantou muitas doações de
empresas ao PMDB e, por isso mesmo, pode causar um estrago enorme aos
peemedebistas que hoje ocupam cargos de destaque em Brasília. "O Cunha
pode implodir o governo Temer", disse Funaro numa conversa recente. Pode
ser bazófia. Ou não. Procurado por VEJA, Cunha disse que não recebeu recursos
ilícitos: "Quero ver provar". Temer, por sua vez, pôs sua equipe em
campo para tentar atender, nos bastidores, às exigências de Cunha.
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