A possibilidade de Impeachment é nula
Por Rafael Bruza
Rejeição nas contas, estagnação econômica, casos de corrupção e outros
fatos que afetam o PT são grandes argumentos para a oposição, mas não
dariam origem a um processo de Impeachment. Não na conjuntura atual...
Os defensores do Impeachment dizem que Collor foi destituído por muito
menos: um Fiat Elba e uma reforma em sua casa, pagos com um cheque de
uma conta fantasma de PC Farias. E é verdade...
Desde esse ponto de vista, o Impeachment de Dilma seria inevitável. Mas
há um contexto enorme por trás das situações de cada um que acaba com
essa lógica.
A força política de Collor em 1992, anos do Impeachment, equivalia a de um veleiro em meio a uma tempestade.
O PT está em uma tempestade, mas é um transatlântico político.
Explico a metáfora.
Collor não tinha maioria no Congresso, havia perdido o apoio da mídia,
governou por dois anos e era alvo direto de acusações de corrupção (o
que acabou com a popularidade dele).
Dilma e o PT vivem uma realidade muito diferente. Explico essa realidade em cinco fatos.
1- Dilma tem maioria no Congresso: vocês acham que o PMDB anda revoltado
com o PT? Que nada! Eles só querem mais cargos e verbas. Estão conseguindo,
claro (o sistema do Presidencialismo de Coalizão funciona assim). E por
isso a aliança se mantém, a despeito das interprtações de crise feitas
pela mídia e oposição. O fato que comprova a relação é simples: o PT
consegue aprovar suas medidas mais importantes, como o ajuste fiscal,
algo que não seria feito em verdadeiros tempos de crise política
(medidas importantes para o governo são melhores para “troca de
favores”, e não são aprovadas até que a base aliada esteja satisfeita).
2- Tem apoio de parte da mídia: a Grande Mídia se opõe, mas a imprensa
progressista ainda “fecha” com o PT. Simpatizam ideologicamente com o
PSOL e outros partidos de esquerda, mas o principal apoio é ao PT. E uma
simples leitura na Carta Capital ("clique aqui"
para ver o texto em que a revista declara apoio à Dilma), no “Blog
Cidadania”, no “Cafezinho”, “Tijolaço”, Brasil 247 ou qualquer outro
desses meios de comunicação de esquerda mostram como o PT anda com
bastante apoio entre os formadores de opinião pública, principalmente na
Internet.
3- O PT é alvo de acusações de corrupção, mas não perderia apoio da
militância: se cresce uma possibilidade de Impeachment, os petistas (que
andam escondidos nos últimos meses) não pensarão duas vezes antes de
vestir a camiseta vermelha com estrela e ir à Avenida Paulista ou à orla
de Copacabana.
Dilma pode estar em um momento ruim com sua base eleitoral devido,
principalmente, a ajuste fiscal que promove e aos ministérios que
escolheu, mas alguém duvida que uma eventual intenção de Impeachment dos
conservadores levaria milhares às ruas? Isso aconteceu com Collor, mas
os “caras-pintadas” protestavam contra Collor.
4- O PT vem de um governo de 13 anos: a destituição de um presidente de
um partido desconhecido (PRN, atual Partido Trabalhista Cristão) que
governou durante dois anos é muito diferente do Impeachment de um
partido de massas (o PT, o único partido de massas do Brasil, aliás) que
governa há mais de uma década.
O PT tem uma lista enorme de conquistas desses 13 anos. Collor nem teve
tempo de fazer uma agenda positiva. A contra argumentação é muito
diferente nos dois casos. A população tende a se indignar mais com um
partido que pouco fez. O PT, apesar dos problemas, erros e omissões, tem
milhares de argumentos para permanecer no poder. E isso faz toda
diferença.
5- As manifestações pelo Impeachment perderam força: o excesso de raiva,
a carência de argumentos ou objetivos e os “flertes” com correntes
autoritárias acabaram com a força política dos movimentos que lutam pelo
Impeachment, como o “Movimento Brasil Livre” ou o “Vem Pra Rua”. As
manifestações acabaram (apesar de terem sucesso em sua époa), mas o
movimento não evoluiu. E, com isso, estão fadados a desaparecerem com o
tempo.
Enfim: o PT não tem chances concretas de sofrer Impeachment. Hoje a
oposição fala de destituição porque esse é seu papel político. Mas ela
precisaria de provas que vinculassem o nome de Dilma a um caso de
corrupção para conseguir levar a destituição a plenário. Só um fato
gigantesco desses poderia mudar toda essa conjuntura narrada acima.
Por outro lado, o PT se mantém confiante e também representa um papel
político: sendo governista, se protege das críticas e pretende
demonstrar força.
E daí vem a declaração de Dilma: “eu não vou cair, isso aí é moleza, é luta política”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário